quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Um quarto.

Ela estava sentada na cama olhando fotos antigas de um tempo em que seu sorriso fluía tanto quanto sua alma em alegria. Pensava em como foi feliz. Dos amores que viveu, dos amigos, dos abraços repartidos em tardes ensolaradas em uma cidade pacata.
Um quarto. Um quarto de século, e ela nunca teve tão pouca vontade de viver.
Os dias são mastigados e cuspidos.
Os meses passam se arrastando e ela não consegue ver nada além de mais dias estupidamente mal acabados no ano novo que chegou.
Um quarto. Um quarto de século.
Sua apatia desestrutura sua mocidade.
Vai levando os dias um por um, sabendo que o fim da noite trará o azedo e fétido cheiro da amargura.
As marcas já são só marcas. As cicatrizes são só cicatrizes.
Mesmo que com faca afiada encostasse nelas, não doeria mais. A tudo ela se acostuma.
Uma tenra idade, o perdão, a noite, a cidade.
Tudo que a encantava, hoje é musgo no coração empedrado.
Talvez seja resultado daquela grande decepção, talvez arrependimento, talvez a culpa seja dela.
Ela não gosta de sentir pena de si mesma e então limpa rapidamente a lágrima que há tempos estava guardada e ela não deixava cair.
Voltou a si, sorriu seu sorriso ensaiado e foi dormir, ciente de que amanhã seria mais um dia.
Mais um.
Um quarto, um quarto de século.
Mas pareciam ter sido séculos inteiros dentro de um quarto.

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