sábado, 2 de fevereiro de 2013

Da inércia disfarçada.

Tá certo que reflexão ajuda a resolver muitos problemas. Protestar também é bom, expor sua opinião, isso ajuda a mover massas, a acender uma chama dentro de muitos seres.
Mas não adianta você ter toda uma crença virtual e não tirar a bunda do sofá.
Você reclama da tragédia, culpa o governo, mas não doa sangue, não pensa antes de votar, nem mesmo se informou sobre as vítimas, a casa noturna, que SM recebeu ajuda de outro país em sangue e pele, e que o dono da Kiss era bombeiro.
Você fala dos preconceitos, mas quando está na rua não percebe o tom dos olhos do gari, a cor da pele do mendigo ou os dentes brancos da menina pedindo pão.
Porque pra você, que sempre teve uma vida boa, que diz ter uma religião ou filosofia justa, é mais fácil fazer tudo em frente ao computador, com a bunda sentada e comendo a sua caesar salad, e pensar o que escrever no facebook enquanto está indo com seu fone de ouvido para a academia, pilates ou yoga.
E enquanto você está reclamando do calor, e depois do frio, e depois do sol, e depois da chuva, tem na porta da sua casa um cachorro morrendo de sede, de fome, de frio. E logo mais, na esquina um senhor que toma cachaça a um real pra não sentir mais fome, porque beber é mais barato que comer. E você aí, pedindo a Deus que chegue logo sexta-feira.
Então você posta no facebook uma foto de um menino na África, esquálido, falando sobre a injustiça da humanidade. Ah, consciência você tem?
Mas na hora de ajudar, de votar consciente, de acariciar, de adotar, de abraçar, de engolir o choro da mãe que veste o filho para o funeral, de levar o ferido ao hospital, de socorrer, de acudir alguém quando grita "socorro" ao invés de fugir, de dar uma moeda pra quem pede sem se perguntar pra quê ele quer, de dar comida a quem tem fome, abrigo a quem tem frio, carinho a quem tem vazio, apoio a quem não tem escada, cérebro e opinião a quem governa, de pintar a cara e pedir fim à corrupção, enfim de agir pelo grupo, aonde está você?
Sim, somos todos culpados pela tragédia de Santa Maria.
Mas mais do que isso, somos todos culpados pelas tragédias do dia a dia, aquelas que já nos são tão cotidianas que nem vemos mais passar. Somos culpados por fingir a cegueira e acreditar nela. Somos cegos pelo choque que sentimos ao vermos na tv uma notícia que também acontece no seu bairro, mas você não quer saber quando ´por perto, com medo de ter que ter responsabilidade social e ir ajudar.
Somos culpados por sermos inertes, afônicos e infelizmente, uma legião de indignados virtuais, apenas.

2 comentários: