quarta-feira, 2 de março de 2011

O encontro da manhã.

São sete horas da manhã e eu estou tomando um forte café.
Vou para a janela olhar a praia, e o mundo lá fora já acordou.
Menos eu.
Ele pára ao meu lado e eu não olho em sua direção, com medo dele desaparecer outra vez.
Só vejo a ponta de sua longa e brilhante túnica alva, com o canto do olho.
Árabe, moreno, e de traços muito bem definidos, ele nada diz.
Apenas me toca com seu silêncio e compreensão, com sua magnitude e luz.
Fitando o nada, minha mente começa a trabalhar ligeiramente, vasculhando gavetas do subconsciente.
Eu tenho que fazer alguma coisa, eu sei que eu tenho, mas não me lembro o quê. Não consigo lembrar!
Este é o homem que caminha ao meu lado mesmo quando eu não quero, mesmo quando sinto vergonha de mim.
Esteve comigo no meu Chernobyl, e me deu a mão mesmo sabendo que os fluidos radioativos provinham de meu corpo e mente.
Agora, neste instante pausado da manhã, ele estava aqui ao meu lado para me dizer alguma coisa da qual eu não conseguia escutar.
Decidi então sair da janela, me retirar da podridão e da poluição lá de fora para me focar na podridão fétida que provinha de mim.
Um fio tênue de luz, como uma linha de nylon nos envolvia, traçando uma linha de amor que nos fazia pai e filha, mestre e aprendiz.
Havia muitos anos em que eu não via ele, mesmo ele estando ao meu lado.
E agora ele estava aqui, com sua enorme e brilhante presença desnuda para minhas pobres pupilas.
Chorei. Sorri. Emocionei.
Então decidi caminhar na busca de mim mesma, e descobrir a chave do meu mistério:
O que eu tenho que fazer? Sei que tenho que fazer alguma coisa, mas não consigo me lembrar o quê.
Vamos então ter uma longa conversa de 48 horas.
Sei que vou levar grandes lições de moral por ter ficado estagnada tanto tempo, mas que me sirva de lição.
Preciso caminhar, preciso ir, preciso seguir em frente...
Meus passos estão pesados tamanha a carga que carrego...
Devo deixar tudo para trás, devo abandonar o peso e carregar só o que é leve e o que poderá me nutrir daqui em diante.
Fechei  meus olhos, mas a luz continuava lá.
Que agora eu possa me levantar, que eu possa seguir, que eu tenha força e coragem para continuar.
Que os corpos se levantem da preguiça,
Que as mentes acordem do sono pesado,
Que o altruísmo renasça nos corações,
Que haja fé,
Que não haja religião superior a verdade,
Que os mestres dêem lições verdadeiras aos alunos,
Que a bondade perdure mesmo nas sombras,
Que ninguém tenha medo do amanhã,
Que você também acredite,
Que os próximos dias sejam de paz,
E que a paz esteja com você.

3 comentários:

  1. Isso é coisa mais verdadeira, mais capaz, mais importante que já li nos ultimos tempos! Aproveite, muito esse canal, neguinha!
    Tens sempre minha admiração.

    Bjo!

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  2. Realmente muito bom!! Transmitiu uma cadeia de sentimentalidades...

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  3. bãããããããã....
    Amei minha eterna Musa
    bjsbjs

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