domingo, 14 de novembro de 2010

Subliminar.

Eu parto do pressuposto espiritual de que se estamos neste planeta é porque somos seres involuídos.
Morar aqui é queimar karma, só pode.
Por sermos seres involuídos e infinitamente inferiores, sentimos raiva, paixão, ciúme e (por que não?) inveja. Sim, todos sentimos inveja, uns mais, outros menos.
Tem gente que libera isso em forma de olho gordo, tem gente que aceita a inveja e guarda. Eu não tenho muitas invejas negras, a maioria delas são brancas e brandas, como dos moradores de jericoacoara ou de Paris, ou de quem tem tatuagens lindas, ou de quem sabe se vestir bem.
Mas ele me causa uma inveja negra fudida, não sei nem medir esse tamanho de inveja profunda e raivosa que se alimenta dos meus mais genuínos e puros desejos.
Me peguei o xingando outro dia, só porque tenho inveja.
Tenho inveja que ele fica o dia inteiro escrevendo, tenho inveja que os pais dele têm dinheiro para mantê-lo em casa com a mais bela biblioteca do mundo, com os mais nobres autores lhe fazendo companhia em sua cadeira confortável de 2678 dólares e com os mais sofisticados utensílios de escrita.
Morro de inveja quando pego meu laptopzinho que me irrita com suas teclas falhas ou quando eu não tenho internet para fazedr pesquisa, morro de inveja quando quero ler aquele livro raro que só se encontraria em algum lugar nórdico inacessível e ele tem em casa e nunca leu, tenho inveja que ele não precisa trabalhar pra pagar as contas e, por isso, tem tempo de fazer leituras, releituras e poesias lindas e saborosas que enchem os olhos e o coração com tanta beleza 'degustável'.
Só pra constar, a gente não se conhece.
Se eu o conhecesse, a inveja se transformaria em orgulho, porque é isso que eu sinto pelos amigos que fazem coisas legais.
Mas eu sei umas coisas da vida dele, eu sei que ele é sociofóbico e tem poucos amigos, eu sei que ele tem depressões e angústias gigantescas, eu sei que a felicidade dele é abstrata e distante. agora me pergunta se eu troco a minha vida de pobre que pega o ônibus todo dia e atrasa faturas e contas, mas que tem amigos tão amigos que lêem qualquer porcaria que eu faço – e ainda elogiam – pela vida dele?
Não troco, não troco, não troco.
Não troco minha vida suada pela vida “fácil” dele por nada neste mundo. não troco as festas frenesi na casa da Kaká ou do Diego, não troco as jantas com 30 pessoas que dividem pratos e talheres sem nojinho, não troco as baladas de 20 reais (e ainda assim bem bêbadas), não troco esse riso frouxo que ganha o coração de sogras e crianças, não troco as noites frescas na varanda movidas a piadas e bobagens por uma vida glamurosa e solitária na super biblioteca nem a pau.

Eu não sei quem me falou um dia que nosso espírito vem ao mundo sabendo do nosso destino. Eu acredito tanto nisso, principalmente quando acontecem dejà vús intensos.
Pelo jeito eu escolhi ter amigos de verdade. E isso não tem conta bancária no mundo que compre.
Aliás, do que eu tava sentindo inveja mesmo?

Nada, absolutamente nada mesmo, paga uma discussão entre eu, Matheus e Zanow sobre as teorias e os teóricos e os paralelos dos escritores da antiguidade para os modernos. Com gente assim na vida, quem precisa de uma Saraiva em casa?

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