sábado, 11 de abril de 2009



Então ele chorou. Não sabe ainda que depois de tudo, acabou.
Sente, pensa, dói, ama.
E é triste, mas ele não fez questão de mudar esse quadro de dor.
No dia do fim, ele estava feliz. Viu que ela estava diferente e perguntou:
-Tu tá estranha, que tu tem?
E ela disse.
Foi má, e admite, mas era o único jeito.
Ela deixou uma ou duas lágrimas azedas.
Foi-se, não olhou para trás, não mais fez questão de olhares.
Abdicava a profundeza prazerosa de uma mente excessivamente hesitante.
Ele copiosamente chorou, riu, gritou, gargalhou, fugiu, brigou, escandalizou.
Precisava do tempo de novo -de novo- admitia, para poder se curar, de novo, de uma nova cicatriz, inesperavelmente aquela nova chaga, que ali não parava de sangrar, e parecia que ele não fazia questão de tentar estancar.
Ele tinha dificuldade em entender. Não sabendo os motivos, fundia o cardíaco mental em pensamentos dessa vez pouco culpados, a não ser talvez pelos próprios excessos de si mesmo. Está cansado de culpa, de compreensão, de valor. Está cansado de tanta auto-piedade.
Então ele começou a maltratá-la. Passou a verbalizar, contar histórias, colocá-la no circo dos horrores como a mulher ogra.
Mas ali dentro daquele coração a chaga ainda não estancou. E ele se arrepende.
Lembra do passado e dos planos que tinha. Do anel que comprou, do pedido que por pouco fez.
E manda e-mails. Sem resposta.
Liga. Sem resposta.
Apela para a família dela. Sem resposta.
Uma resposta que ele esperava receber, nem que fosse um não dito com toda a raiva de um esbravejado rosto de porcelana.
Mas ele sabe que ela não se importa, que ela cala, que ela não escandaliza, grita ou machuca como ele fez. Apesar de ela saber que o silêncio é a pior resposta e a mais doída que um ser humano pode receber, e por isso ela o fez. Silêncio. Ela é má.
Ela cansa da insistência. Ele cansa de insistir, mas persiste.
Não há mais palavras que saiam da boca dele, mas ele tem um turbilhão de idéias e tanto a dizer, que desaba a chorar.
E ela é má. Má.
Vira as costas e vai embora.
Meu Deus, como essa mulher ficou má! Ela não era assim, ela tinha sentimentos, não podia ver ninguém chorar, chorava junto, não podia com dor, com tédio, com desigualdade, era a boneca com o coração de ouro e agora virou um robô.
Mas ele tinha culpa nisso tudo e sabia, sabia também que nada mais podia ser como antes e mais uma vez chorou com o coração apertado, porque fazia questão de lembrar dos anos vividos pra morrer mais uma vez.
Não sabia se porque era páscoa, e em feriados a única família que ele tinha era a dela, principalmente na páscoa, quando fazia e comia as coisas que amava junto dela.
Não sabia se era por isso ou se estava ficando mais sensível com o passar dos dias.
Mas ele a queria de volta.
Ia fazer de tudo pra ter.
Afinal, como uma vez ela disse, não é o amor que é uma fatia de maçã; é a paixão, que oxida, fica marrom, apodrece e morre.
E de amor ele sentia e entendia.
Mas ela tinha ficado má.
Aprendeu com as pessoas que conhceu, com os dias que vieram e com as coisas que ouviu, que para a sobrevivencia, devia ser má.
E ela estava.
Cruel, bruxa, frívola e má.

Nenhum comentário:

Postar um comentário