quarta-feira, 11 de março de 2009

Pois bem,



"Achava que cairia em grave castigo e até risco de morrer se tivesse gosto. Então defendia-se da morte por intermédio de um viver de menos, gastando pouco de sua vida para esta não acabar."


Clarice Lispector.
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Tudo bem.


E daí que em determinado momento da vida, chegamos à conclusão – ao menos acredito que assim deveria ser – de que tudo bem dedicar-se a alguém sem aguardar recompensas. Querer bem e conseguir se fazer entender me parece recompensa das boas.


E daí que tudo bem se ela já esteve louca, surtada, depressiva e se fez o bastante em matéria de burrada, se encontrou luz na noitada e na psicologia barata do garçom do bar, se fez um balcão da cama, coitada, que deixada de lado, quando rara usada, escuta duas vozes não estranhas que se perdem em embriaguez e um tantinho de poesia falha. Muda, quase enlouquece, oh meu deus quem é que merece esses dois tentando se exibir? Falando sem parar na morte da bezerra e de tal forma dimigurados que nem dormir querem mais, e eu caio em desuso.
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E daí que tudo bem estar exercendo uma profissão que não dá tanta felicidade assim. Afinal, há tantas outras vias expressas de sorrir. Há uma casa no campo esperando no inverno. O chá quente da chaleira e o palácio de espelhos da memória daquela grama verde que virava colchão nas manhãs de domingo, e fazia daquela blusinha favorita vermelha virar um mato só.

E daí que às vezes a gente se sinta sozinho. Existem tantas formas de passar o tempo com nossa mente que trabalha e pensa bobagem. Existe tanto pensar, tanto querer, tanto afogar dentro do meu âmago. É ululante a súplica de que o paralelepípedo das ruas tortas de minha mente não machuquem os joelhos nos meus tombos psicológicos e pseudo-mortais. (É caro e bonito saber que usei três muito boas palavras em uma linha.) :)


Não é o caso de não se querer dedicação e reconhecimento. Ou que não se deseja saber-se amado e querido. Nem que seja fácil e simples desprezar o passado do outro. Ou ficar brigando com o que se tem, ao invés de tentar gostar, ou simplesmente desistir de tentar pra não machucar, e assim deixar a vida e todas essas coisinhas doces passar sem que se perceba o quanto se perde, mesmo que seja fugaz.


Sem moralismos, apenas uma constatação: em determinado momento da vida, nos damos conta de que nem tudo é como se deseja, que as coisas irão durar o tempo que couber a elas, que esperar o que não é nosso ou o que nunca irá chegar – simplesmente por estar partindo para outra direção – é uma baita perda de tempo e energia.


E daí que apenas a percepção de que esse momento existe chegou à minha vida. O momento que é bom, nada. Continua por aí, sem dar as caras.

Mas enquanto isso vou ensaiando, e se demorar muito: tudo bem.


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Inicia-se os beijos,


Ela: Eu não posso fazer isso, é como se eu comprasse um novo par de sapatos, mas que não servisse em meus pés.


Ele: Então vamos ficar um tempo descalços.





Bonitos sapatos.

:)

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